Eu não costumo fazer releitura com frequência. Contudo, alguns livros merecem o tempo e a dedicação.

“A vegetariana” é um deles.

Essa foi uma leitura que me tocou muito quando li, bem antes de começar o Benditos Livros. Recentemente, tive a chance de fazer a releitura com as meninas do Clube do mistério,e esse segundo contato me fez ver e sentir muito mais do que da primeira vez.

Primeiro, vamos deixar claro – A vegetariana, apesar do nome, não é um livro sobre escolhas alimentares e criticas à sociedade carnista. Muita gente deixa de ler a história porque o título engana.

Yeong Hye, uma mulher comum na Coreia do Sul, tem um horrível pesadelo e decide não mais comer carne em consequência dele. O pesadelo se mantém uma constante na sua vida, e passa a afetar sua rotina, seus pensamentos, suas relações. O vegetarianismo aqui é uma alegoria que representa uma quebra de padrão, um ato de rebeldia. Contra o quê exatamente ela se rebela, isso fica a cargo da sua experiência para com a leitura.

A partir da escolha “vegetariana” da protagonista, vamos acompanhar, pelo ponto de vista de seus familiares (e nunca pelo dela), o que essa escolha provoca na vida de todos. Relatos do marido, do couhado e da irmã de Yeong Hye vão nos mostrar como esse ato supostamente insano da protagonista é o vento que destrói um bonito e frágil castelo de cartas .


Curto, desconfortável e intenso, em poucas páginas você vai ter um retrato triste de uma cultura bem diferente da nossa que, ainda assim, não deixa de ser similar : patriarcal, cruel para com as mulheres, que é rápida nos julgamentos e difícil de perdoar. Suicídio, doença mental, abuso marital e questões de corpo/imagem são temas recorrentes na narrativa, que podem ser gatilhos para muitos, então fica aqui o alerta.

Muitas pessoas relatam um sentimento estranho de conexão e repulsa com a leitura , que, ao meu ver, é o objetivo de Han Kang. Nossa protagonista é a rperesentação da mulher coreana contemporânea , de uma sociedade em conflito com seu passado tradicional e o presente moderno, um embate que existe dentro de toda mulher.

Capas da Inglaterra, Coreia do Sul e EUA.
(Portabello Books / Chagn / Hogarth)

É por essas e outras que ele foi merecedor do Man Booker International Prize em 2016.

Ainda que intenso, a leitura é sutil e reflexiva, repleta de simbolismos. Com essa leitura, virão à tona os nossos próprios preconceitos e hipocrisias. E esse é o grande valor do livro, para mim: deixar o olhar julgador do lado e confrontar os seus próprios medos como mulher. E garanto, você não vai esquecer essa história tão cedo.

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