Quando eu era mais nova, na casa da minha madrinha, havia estantes cheias de livros, e uma coleção que sempre me chamou a atenção foi a da Agatha Christie. Dali, eu fui apresentada a Miss Marple, uma velhinha intrometida e esperta, um ícone dos livros de mistério.
Eu acho que eu li quase todos os livros com a Miss Marple, mas não me lembro de ter lido nenhum do Poirot naquela época. Esse querido detetive belga cheio de manias eu só conhecia de fama mesmo, até poucos dias atrás. “O Misterioso caso de Styles” é o primeiro livro de Agatha Christie e o primeiro protagonizando Hercule Poirot, e com o centenário da publicação do primeiro livro da grande dama do mistério nesse ano, acho que foi o momento perfeito para conhecer esse personagem.
Nesse livro, Hastings encontra seu amigo John Cavendish por acaso, e esse o convida a passar uns tempos na sua casa de campo em Styles. Durante essa visita, a velha madrasta de Cavendish, a Sra Inglethorp, morre, supostamente envenenada. Hercule Poirot, que é amigo de Hastings e da senhora envenenada, está nessa mesma cidadezinha, é convocado para investigar.
Hercule Poirot
E que figura é o detetive Poirot ! Para um livro publicado a 100 anos, certas minúcias de narrativa e vocabulário podem não ser muito convidativos. No entanto, levando ainda em conta a data, o fato de este ser um livro de estreia e o primeiro livro do gênero mistério por ela escrito, dona Agatha se saiu muitíssimo bem na construção do mistério e sua reviravoltas.
Pela figura de Poirot, ela foi capaz de me apresentar tantas informações, suspeitos, e pistas a ponto de conseguir desviar a minha atenção do verdadeiro criminoso. Assim como o coitado do Hastings, que é quem dialoga sobre o crime com Poirot durante o todo o livro, me senti meio burra por não conectar os pontos no final.
Já me disseram esse não é o melhor livro para começar a jornada por Agatha Christie, e eu concordo. Mas não deixou de ser uma grata surpresa ter sido enganada por ela – cem anos depois, eu caí certinho na armadilha, o que mostra que sua astúcia está muito viva !
Essa edição especial do centenário, publicada pela Globo livros traz ainda um surpresa – o final não publicado do livro. O editor de Agatha não gostou da forma com que ela fechou a história, e sugeriu que ela mudasse a ambientação para revelar o assassino. Essa mudança virou sua marca registrada, mas é bem interessante ler o que ela tinha programado como o desfecho da história.
Você sabia?
Aliás, que mulher pioneira, não acham? Esse livro redefiniu a ideia do que um suspense deveria trazer aos leitores, e marcou fortemente sua estreia no mercado literário. Seu trabalho é tão importante que já salvou vidas ! Sim, em junho de 1977, foi noticiado que um bebê do Catar havia sido levado para Londres por conta de uma doença misteriosa. Uma das enfermeiras de plantão, que estava lendo o livro “O cavalo amarelo” (On a pale horse, em inglês) naquele momento, reconheceu os sintomas e pode ajudar os médicos no diagnóstico : envenenamento por tálio. A substancia não é comum na Inglaterra, mas algumas regiões usam um composto de tálio como inseticidas ou veneno para rato. A criança se recuperou plenamente.
Conta pra mim aí nos comentários, qual é seu livro favorito de Agatha Christie?