Se você é fã de romances contemporâneos, e adora histórias que dilaceram o coração em pedacinhos, você precisa conhecer o novo lançamento da Morro Branco : Mar aberto, de Caleb Azumah Nelson.
Nosso protagonista, um homem preto de ancestralidade ganense, não tem nome. Sabemos que ele é um fotógrafo, e o seu interesse amoroso, a namorada de um amigo, é bailarina. Entre eles surge uma potente amizade, que vai se transformando ao longo do livro. A narrativa em segunda pessoa parece estranha no início, instigando você a mergulhar nessa história como se ela fosse sua. Entre as sutilezas e as dificuldades de um casal preto na Londres de hoje, o autor entrega uma narrativa incisiva e, ao mesmo tempo, incrivelmente poética.
Em seu cerne, o livro não é simplesmente uma história de amor. Caleb Azumah Nelson levanta, a cada recorte/vinheta do cotidiano do casal, questões sobre lugar do corpo preto tanto na vida quanto no amor. Afinal, em uma sociedade que não permite que homem preto seja vulnerável com os seus sentimentos e ações, como lidar com os pensamentos sobre si, sobre o outro, sobre o medo, e sobre o direito de amar?
Há, ainda, um importante apontamento social e racial nesse contexto, que lida com a violência policial e com a desumanização do corpo preto, que sufoca o protagonista com uma constante ansiedade de não ser visto como pessoa. É um sentimento que o acompanha em todas as esferas e se torna parte integrante do seu relacionamento amoroso, e explorado de maneira muito realista pelo autor.
Outra coisa que me chamou atenção em Mar aberto são as referências de arte, sejam em forma de literatura, cinema ou música. O conforto da arte preta na real expressão dos personagens é muito legal de acompanhar. Tão importante, inclusive, que há uma playlist da própria editora original de Caleb Nelson com todas as músicas e artistas citados no livro, que ajuda muito na ambientação do livro.
Eu, que sou uma pessoa que normalmente não curte romances contemporâneos, entrei nessa leitura um pouco receosa, e saí com os olhos marejados. O autor entrega um livro que perpassa o romance e entrega uma conversa íntima com a nossa própria vulnerabilidade. Um livro curto e poderoso, Mar aberto é uma leitura que certamente vai marcar o leitor por muito tempo