No pequeno vilarejo de Westerwald, Alemanha, a vida anda bem devagar, sem muitas surpresas.
Mas ontem, Selma, uma adorável idosa da cidade, sonhou com um ocapi, e a comunidade se agita porque sabe o que está por vir : alguém vai morrer.
Luise, neta de Selma, só tem dez anos de idade, mas entende bem que a visita da morte mexe com os ânimos de todos, especialmente dos moradores idosos. Mas dessa vez, vai ser diferente: o presságio do ocapi, dessa vez, vai tocar a todos de maneira inesperada e profunda, e Louise nunca mais será a mesma.
Westerwald, comunidade rural velha e esquecida, é o pano de fundo perfeito para as lições do livro, que acontecem em dois tempos – com Luise criança, e com Luise adulta. Ela é o fio que nos conecta a personagens genuínos , ricos e muito interessantes como seus pais, o oculista amigo da família, o dono da sorveteria, e tantos outros moradores que vivem uma existência pacata, envelhecida, mas que, cada qual à sua maneira, desejam muito, muito mais de suas vidas.
Na minha opinião, a cidade e seus moradores são, certamente, o grande protagonista dessa obra. Pessoas peculiares, mas unidos no seu senso de comunidade nos bons e maus momentos, eles ganharam meu coração nessa obra.
O livro de Mariana Leky é simples, tocante, e não romantiza o processo de morte e luto, e só por isso, já merece destaque. O desenvolvimento evolutivo dos personagens soa muito real nas páginas, e apresenta toques de realismo magico que funcionaram muito bem, amenizando o tema. Minha única queixa com o livro é Luise e sua trajetória na vida adulta . Uma jovem sem graça e estagnada, presa em um estranho circulo de conforto, ela é a representação do incômodo de uma vida em descompasso. Embora não tenha gostado muito dela, nem do rumo tomado, entendo o seu papel na obra.
Ressalvas à parte, que livro !
Simples, delicado e muito verdadeiro sobre o binômio morte-vida, “O dia em que Selma sonhou com um ocapi” é uma leitura que comove, ensina, e não entristece. Ela nos fala sobre as simples alegrias da vida, sobre romper a zona de conforto, e também sobre como, todos os dias, precisamos deixar algo morrer para que outro algo possa ganhar vida. Por tudo isso, não me surpreende ver todo o sucesso do livro, cuja língua original é o alemão, nos mercados internacionais.
Eu agradeço muito a Netgalley pela oportunidade de ter lido essa obra. A edição em português foi lançada pela Tag Inéditos no fim de 2019, e recém lançada em inglês pela Bloomsbury, que gentilmente me cedeu uma cópia antecipada para resenha. Se o livro te aguçou a curiosidade, segue o link de compra