Que tal conhecer um livro nacional que mescla distopia, suspense, com um toque de terror? Nictofobia, do autor Dias Ferpella tem tudo isso, e mais.
Em um mundo não muito diferente do nosso, estar acordado depois do pôr do sol, além de crime, pode ser muito perigoso. Por uma determinação do governo, nenhuma pessoa pode estar acordada depois do limiar, ou seja, quando a noite cai. As novas gerações desconhecem o que é a noite, e aqueles que se lembravam, deixaram para os mais novos histórias que mais parecem folclore, lendas urbanas.
Como chegamos a um mundo onde o Sono é sinônimo de medicamento obrigatório, e a noite é proibida? Como é viver em uma sociedade onde a sua movimentação é limitada pela luz do sol?
” tudo sempre pergunta sobre a noite. Não, eu nunca fiquei acordada, todo o que sei da noite é o que nos ensinam na escola. Eu sei sobre morcegos, sobre mariposas, sobre corujas, eu sei sobre estrelas e a escuridão. Eu digo, é fascinante como criança. Mas não é pelo assunto em si, é pelo mistério, é pela proibição.(…) o meu ponto é: eu posso dizer que sei sobre a noite, que eu conheço a noite, mas se nunca senti e experimentei na pele a ausência do sol, eu prefiro te responder com uma pergunta : “noite”, o que é isso?”
A proibição, contudo, não significa conformidade : os Insones, aqueles cidadãos dispostos a explorar o mistério da noite e desafiar as ordens do limiar, são uma resistência constante. A empresa reguladora do sono, Socoma, impõe o cumprimento da lei e caça esses rebeldes diariamente com a ajuda de agentes de monitoramento do sono.
Lúcian, o nosso protagonista, está apaixonado, e sua namorada Lenny , que é uma Insone , o instiga a desbravar a calada da noite com ela. No entanto, uma batida dos agentes da Socoma vai atrapalhar tudo: ele e outros insones são presos.
Podia ser o fim para Lucian, mas não é. O comboio que ele está é atacado, e uma série de acontecimentos funestos vai romper definitivamente a paz entre o dia e a noite, da pior maneira. Quem poderia imaginar que as as lendas eram mesmo reais? Os perigos noturnos vão fazer uma visita a todos que estão acordados, e uma corrida frenética entre a vida e a morte vai se estabelecer.
Uma única noite, com múltiplas perspectivas. É assim que conhecemos a verdadeira história por trás dessa sociedade que resiste vivendo em uma paz artificial com a noite e seus habitantes. Nictofobia alterna entre narrativas do passado e presente para que entendamos os acontecimentos que culminarão na fatídica noite de terror, que tem Lucian como estopim.
O que eu achei do livro?
Eu gostei muito da premissa, da dicotomia medo/fascínio da noite. Outro ponto interessante pra mim foi o debate sobre enfrentar os medos e buscar a verdade, e até que ponto essa verdade vale mais que a segurança dos seus entes queridos. Temos uma variedade de personagens que nos mostram variadas facetas dos problemas e das angústias de uma população presa em uma rotina que lhes é imposta pelo governo. A ignorância é mesmo a melhor saída para proteger a população dos perigos que a rodeiam?
Foi um leitura bem interessante, e meu único problema com ela foi a alternância um tanto abrupta entre personagens e tempos narrativos, que deixou a história um tanto confusa no início. Depois que você conhece melhor os personagens e avança na narrativa, a leitura fica mais fácil, mas recomendo atenção.
Também gostei da resolução do conflito final, que fica claro nas entrelinhas, e leva o leitor a refletir. Foi uma boa experiência, e, se você gosta de distopia e suspense, vai gostar também. E garanto que você vai ver a noite com outros olhos depois dessa leitura…