Prontos para mais uma resenha, queridos leitores?
O imitador de homens, livro escrito por Walter Tevis na década de 1980, é um história que precisa ser conhecida por todos que buscam uma boa distopia com boas doses de ficção cientifica.
Em um futuro distópico distante, os robôs que um dia foram criados para revolucionar , facilitar a nossa vida são aqueles que agora sufocam a existência humana. A sociedade , nesse ponto, está reduzida e em frangalhos – aqueles que restam estão em estado de torpor contínuo, mantidos no seu lugar com drogas e entretenimento vazio. Não há pensamento critico, nem há novas gerações nascendo. Todo o conhecimento humano está prestes a ser perdido.
No topo desse mundo de existência artificial e sem propósito temos Spofforth, um robô Tipo 9, nosso protagonista. O ultimo de sua geração, ele é uma máquina quase humana, e responsável por manter a ordem na cidade de Nova York. Mas, pra ser sincero, o robô não aguenta mais a responsabilidade de manter essa sociedade vazia funcionando, e sonha em se libertar dessas amarras, pulando do alto do Empire State Building.
Infelizmente, seu programa interno não permite a autodestruição, porque sua função primordial é servir os humanos. Seria possível driblar o código programado? Seria possível acabar com a servidão e com a solidão que dominam sua vida?
No seu caminho, estão Bentley, um professor do interior cuja vida ganha sentido quando descobre uma nova atividade chamada “leitura”, e Mary, uma mulher misteriosa que vive à margem do sistema criados pelos robôs, sem alucinógenos, e no zoológico artificial. Cada qual tem seu papel na trajetória de Spofforth, e formam uma trama recheada de descobertas, reflexões e esperança.
A narrativa nos leva a muitos questionamentos : Como chegamos aqui, no auge da tecnologia, mas sem propósito? Como a humanidade perdeu a habilidade de ler, de formar vínculos sociais, de se reproduzir? Para onde foram a arte, literatura, a religião?
Você vai ter de ler para entender. É difícil falar sobre essa história sem entrar em detalhes ou spoilers.
Muitas das ideias oferecidas por Tevis nesse livro para o futuro são assustadoramente críveis. Conhecer um mundo sem pensamento crítico e leitura mexeu muito comigo , porque descobrir o significado das letras e palavras é o que nos permite expandir nossas limitações espaciais e as fronteiras do conhecimento. Tanto de nós é descoberto por meio da leitura, que eu não consigo me imaginar sem ela, e vocês?
Bentley, o professor que descobre a leitura, experimenta um miríade de sentimentos e conflitos na sua jornada, e descobre seu verdadeiro eu como ser pensante. A partir da leitura, ele passa da condição de somente existir para a condição de viver plenamente. Destaco abaixo um trecho muito tocante:
“Mas, sobretudo, agora me parece que a coragem de saber e de sentir meus próprios sentimentos veio, lentamente, daqueles filmes mudos emocionalmente carregados que assisti na velha biblioteca, à princípio, e depois dos poemas e romances e histórias e bibliografias e manuais que li. Todos aquele livros – até mesmo os entediantes e quase incompreensíveis – me fizeram entender mais claramente o que significa ser um homem. E eu aprendi com a sensação de temor reverente que às vezes me vinha quando me sentia em contato com a mente de outra pessoa, morta há muito tempo, e sei que não estou sozinho nesta terra.”
O imitador de Homens é um livro com conexões muito astutas, mas com uma linguagem simples e muito acessível. Está no mesmo patamar de inovação, para mim, de Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley) ou 1984 (George Orwell). O livro traz questionamentos interessantes não só sobre o valor da literatura, mas também sobre conexões humanas, arte e até religião. Não é longo, e acho que isso influiu positivamente na experiencia satisfatória que tive com a leitura. O livro tem alguns pequenos desencaixes na minha opinião (problemas de continuidade e no relacionamento dos personagens) mas nada que me desconectasse da narrativa.
Foi um bom equilíbrio entre sci-fi e distopia, e acredito que é um livro que vai pegar você de jeito.
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