De repente, o mundo não é mais o mesmo. Hoje o céu é rosa, fauna e flora não existem, e as pessoas morrem. Sim, simplesmente morrem. Sem motivo ou explicação, se desfazem como nuvens.
É nesse cenário fantástico que conhecemos Surya e sua família. Ela é mãe de muitos filhos, os últimos sobreviventes desse mundo estranho , e se esforça para manter uma rotina enquanto a morte não os alcança.
Mas, impiedosamente, a morte chega para todos. A da matriarca vai provocar uma série de acontecimentos e de reflexões sobre essa família, e a cada nova partida conheceremos melhor um dos irmãos, suas histórias, e uma lição.
Mesmo sabendo da nossa finitude, estamos preparados para esse momento?
Especialmente nesse período de pandemia, a leitura de ” Triste história do fim do mundo”, do autor Victor Hugo Felix, tocou ainda mais fundo do que eu esperava, por conta dos nossos questionamentos e medos frente a tantas mortes. Se você está em um momento frágil, vá com calma . Eu encarei, e me vi em meio a uma história que trata a morte de uma maneira que me pareceu salutar, orgânica e direta, em uma ambientação com tons fantásticos que facilita e ameniza (mas não foge) das discussões importantes sobre relações humanas, medos, o luto, e a vida.
Ao longo de cada capítulo você conhece uma história pessoal dos filhos de Surya: de onde vieram, com o que sonham, e como sobrevivem hoje. Alguns dos filhos são adultos, e lembram da vida antes do fim do mundo. Carregam desamores, angústias e medos que não tem mais lugar na realidade atual. Outros são crianças, e não conhecem o mundo de céu azul. Cada personagem possui uma personalidade única, e te conduzem , também de forma única, por entre a vida estranha e solitária que levam.
Alguns desses personagens foram intensos e muito bem desenvolvidos ao meu ver , outros eu já achei mais superficiais, sem tanta substancia, e o desequilíbrio me incomodou um pouco ao longo da historia. Apesar disso, todos eles foram eficazes em me ensinar alguma coisa nessa jornada implacável no fim de tudo.
Os capítulos finais são mais intensos, e a conclusão dessa história pode não agradar todo mundo, mas fez todo o sentido para mim. A gente investe na jornada narrativa, cria expectativas, e esquece que o título do livro entrega tudo. E a experiência da leitura se completou quando finalmente percebi o ponto focal do livro – o fim é triste, mas a jornada não precisa ser. Nossa estrada é moldada pelas escolhas que fazemos enquanto há vida para viver, e, se o fim chega para todos, não há que se viver com medo dele.
“Triste história do fim do mundo” é um livro curto, que foi capaz de deixar uma lição importante, e o meu coração ficou mais mais calmo depois dessa reflexão. Dê uma chance a literatura nacional e conheça esse livro – até o momento da edição desse post, ele está no acervo do Kindle Unlimited, e você pode ler de graça.